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Do sacro templo, sobre as negras ruínas
lá medita o profeta
Com fatídica voz, dizendo aos povos
Os decretos de um Deus;
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Ao rápido luzir do raio imenso
Traçando as predições.
Dos soltos furacões, libertas asas
Adejam sobre a terra:
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Do sacro templo em denegridos muros
Horríssono gemendo
Lá fende o seio de pesadas nuvens
O fulminoso raio
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Sinistro brilho, que o terror infunde.
Que negro e horrível quadro!
Propínquo esboço da infernal morada!...
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E o profeta ergue a fronte, a fronte altiva
Cheio de inspiração, de vida cheio;
Revolvem-se na mente escandescida
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Inspiradas idéias que Deus cria
Nesse cofre que encerra arcanos sacros;
Revolvem-se as idéias, pensamentos
Que num lampejo abrangem as idades
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Rápidas aglomeradas
Nesse abismo que os séculos encerra!
Profeta, em que meditas,
espírito de Deus que te revela?
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Um novo cataclismo
Que a terra inunde e a humanidade espante?
De guerras sanguinosas longa série?
A desgraça talvez dum povo inteiro?
Enviado de Deus, conta-me os sonhos
Que te revelam do futuro as sortes
Quando absorto em sacros pensamentos
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Os céus ensaiam qu’o porvir revelam:
E quando é bela a noite, quando brilha
A prateada lua
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Lâmpada argêntea, que alumia as trevas
Quando fulguram meigos
Formosos, belos astros, que semelham
Longa série de luzes
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Que a lousa aclaram do sepulcro imenso:
O que te inspira o céu?
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Já sossega a tormenta; — refreados
jazem mudos os ventos;
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só a brisa
Plácida expele as condensadas nuvens;
Envolta em negro véu lá brilha acaso
Medrosa estrela que sorri medrosa:
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‘Stá muda a atmosfera! Lá se ergue
De súbito o profeta, (sacra gota
Na mente lhe verteu do Eterno a destra),
Do Supremo Arquiteto o mando grava
No extenso muro do arruinado templo!...
→
FIM...
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