Poesia de Machado de Assis:

"À Madame, Arsène Charton Demeur"

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Créditos: obra de domínio público. Imagens: Historiatecabrasil.com

Heroína da cena, que entre as flores Que a senda esmaltam da carreira d’arte Em que orgulhosa pisas, ostentando A fronte além das sombras que forcejam

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Debalde por calcar teu nome e glória, Colhes coroas mil com que te adornas Benévola me escuta. Eu sou bem fraco, Mas poeta me creio, se o teu nome Na lira acordo que meu peito exalta.

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Que val o templo, se lhe falta o nume? Não nos fujas daqui, Charton divina! Deserto fica o majestoso alcáçar Que Verdi exalta com florões de glória!

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Deserta a cena onde pisaste, ornando A fronte altiva de lauréis, de flores, Em face a um povo que aplaudindo o gênio Com palmas estrondosas, te há mostrado

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Quanto estima o talento, quanto te ama! Deserto o nosso espírito de gozos, Suaves sensações que o ser enleva; Da tua bela voz ermo de influxos, Repercutindo apenas dentro d'alma

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Os ecos do teu canto sonoroso, A cada som pungindo uma saudade! Oh sol que o céu das artes iluminas,

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É cedo o ocaso teu na nossa terra! Um dia mais, um dia mais de enlevos: Fica, Charton — contigo a luz gozamos; Sem ti — sombria treva a cena envolve!

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Anjo de Melodias, quem soubera Imitar de teu peito — harpa celeste - O meigo som, para louvar num hino, 'Teu canto que tu mesma hás já louvado!

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Quem me dera, Charton, sentir na mente De Alfredo de Musset o gênio em chamas De imenso ardor, para com voz altiva Levantar-te um padrão, mais duradouro

Que o mármor ou que o bronze, que lembrasse Junto do nome teu meu nome obscuro! Mas não posso obter do austero fado Glória maior que admirar-te o gênio

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Num pobre canto, que o teu canto inspira! Musa gentil dos versos que ora teço, Quando longe de nós, lá noutro palco, Traduzindo as de Verdi obras sublimes,

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Outros mortais que anelam ver teu rosto E ouvir teu canto cheio de harmonias, Com meiga e doce voz extasiares,

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Recorda o canto meu, — recorda o vate Que mais que todos te admira o canto, Talento e garbo que ostentas na cena!

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............................................. Não mais minh’arpa! — Inda uma vez te peço, Não nos fujas daqui, Charton divina! Inda uma vez de teu talento o brilho

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Esparge sobre nós, que eu te asseguro Não nos falece o santo entusiasmo Com que já te acolhemos! Grande eterno,

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Refulge o nume no altar da glória. Grande é Stoltz, mas Stoltzs há muitas; Charton só uma, que no mundo impera!

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FIM... 

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