Poesia de Machado de Assis:

"A Derradeira Injúria "

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Créditos: obra de domínio público. Imagens: Historiatecabrasil.com

Vês um féretro posto em solitária igreja? Esse pó que descansa, e se esconde, e se some, Traz de um grande ministro o formidável nome, Que em vivas letras de ouro e lágrimas flameja.

 Tradução →  

Lá fora uma invasão esquálida braceja, Como um mar de miséria e luto, que tem fome, E novas praias busca e novas praias come, Enquanto a multidão, recuando, peleja.

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O gaulês que persegue, o bretão que defende, Duas mãos de um destino implacável e oculto, Vão sangrando a nação exausta que se rende;

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Dentre os mortos da história um só único vulto Não ressurge; um Pacheco, um Castro não atende; E a cobiça recolhe os despojos do insulto.

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Ora, na solitária igreja em que se há posto O féretro, se alguém pudesse ouvir, ouvira Uma voz cavernosa e repassada de ira, De tristeza e desgosto.

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Era uma voz sem rosto, Um eco sem rumor, uma nota sem lira. Como que o suspirar do cadáver disposto A rejeitar o leito eterno em que dormira.

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E ninguém, salvo tu, ó pálido, ó suave Cristo, ninguém, exceto uns três ou quatro santos, Envolvidos e sós, nos seus sombrios mantos,

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Ninguém ouvia em toda aquela escura nave Dessa voz tão severa, e tão triste, e tão grave, Murmurados a medo, as cóleras e os prantos. III

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E dizia essa voz: — “Eis, Lusitânia, a espada Que reluz, como o sol, e como o raio, lança Sobre a atônita Europa a morte ensanguentada

“Venceu tudo; ei-la aí que te fere e te alcança, Que te rasga e te põe na cabeça prostrada O terrível sinal das legiões de França.

“E, como se o furor, e, como se a ruína Não bastassem a dar-te a pena grande e inteira, Vem juntar-se outra dor à tua dor primeira, E o que a espada começa a tristeza termina.

“És o campo funesto e rude em que se afina Pugna estranha; não tens a glória derradeira, De devolver farpada e vencida a bandeira, E ser Xerxes embora, ao pé de Salamina.

“No entanto, ao longe, ao longe uma comprida história De batalhas e descobertas, Um entrar de contínuo as portas da memória Escancaradamente abertas,

“Enchia esta nação, que aprendera a vitória Naquela crespa idade antiga, Quando, em vez do repouso, era a lei da fadiga, E a glória coroava a glória.

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