Qual descantou na lira sonorosa
O terno Bernardim com voz suave;
Qual em tom jovial cantou Elmano
Brandas queixas de amor, tristes saudades
Que em seus cantares mitigou; oh! Vate,
Assim da lira tu, ferindo as cordas,
Cantas amores que em teu peito nutres,
Choras saudades que tu’alma sente;
Ou ergues duradouro monumento
À cara pátria que distante choras.
Do Garrett divino — o Vate excelso
Renasce o brilho inspirador das trovas,
Das mimosas canções que o mundo espantam
Nesse canto imortal sagrado aos manes
Do famoso Camões, cantor da Lísia
São carmes que te inspira o amor da Pátria.
Nele relatas em divinos versos
O exímio Trovador, a inteira vida
Já no campo de Marte; já no cume
Do Parnaso bradando aos povos todos
Os feitos imortais da lusa gente!
Nessa epopéia, monumento excelso
Que em memória do Vate à pátria ergueste,
Ardente se desliza a etérea chama,
Que de Homero imortal aos sucessores
Na mente ateia o céu com forte sopro!
Euterpe, a branda Euterpe nos teus lábios
Da taça d’ouro, derramando o néctar
Deu-te a doce com que outr’ora
Extasiou Virgílio ao mundo inteiro!
“Empunha a lira d’ouro, e canta altivo
Um Tasso em ti se veja — o estro excelso
De Camões imortal, te assoma à mente;
E de verde laurel cingida a fronte
Faz teu nome soar na voz da fama!”
Foram estas frases com que Apolo
Poeta te fadou quando nasceste,
E em doce gesto te imprimiu na fronte
Um astro de fulgor, que sempre brilha!
Ah! que não possam estes pobres versos,
Que n’áureas folhas de teu belo livro
Trêmulo de prazer co’a destra lanço,
Provar-te o assombro, que ao ouvir te sinto!
Embora!.., entre os arquejos de minh’alma
Do opresso coração entre os suspiros
As brandas vibrações da pobre lira
Vão em tua alma repetir sinceros
Votos dest’alma que te prove o assombro
Que sinto ao escutar-te as notas d’harpa!
Pago ao gênio um tributo merecido
Que a gratidão me inspira;
Fraco tributo, mas nascido d’alma.
MAG. SAUDADES