Ao terno suspirar do arroio brando,
Quanto é belo o repouso em campo ameno!
Em noite de verão, que a brisa geme,
Em noite em que o luar brilha sereno!
Acorda-se alta noite: no silêncio
Envolta jaz a terra adormecida;
Verseja-se um minuto, à noite, à lua,
E torna-se a dormir… Que bela vida!
Se se ouve o piar d’ave noturna
Solta-se a ela mesma um doce canto,
Lança-se extremo olhar da lua ao brilho
Estorna-se a dormir sob seu manto.
Não há vida melhor por certo; eu juro
Não a trocar por outra ainda que bela;
Não há nada no mundo mais sublime
Que um homem contemplar a sua estrela.
É belo o despertar, abre-se os olhos
Suavemente as pálpebras se erguendo
Dir-se-ia a serena e branda aurora.
Que vai rubra madeixa desprendendo.
Senta-se abrindo os olhos, bocejando.
Lançando à banda a destra agarra a lira,
Preludia-se um canto, um canto d’alma
E o terno coração terno suspira.
Erguendo-se sacode a véstia, as calças,
Compõe-se o vestuário com asseio,
E cuidadoso segurando a lira,
Vai-se dar pelo campo almo passeio.
Procura-se depois uma serrana
E se tece uma endeixa após um beijo
(Que é de beijos que o vale se sustenta)
Embora à face ardente assome o pejo.
Não há vida melhor, por certo, eu juro
Não a troco por outra, ainda que bela;
Não há nada no mundo mais sublime
Que amar-se alguma rústica donzela!