Saudade! d’alma ausente, o acerbo impulso,
Mágico, doce sentimento d’alma
Místico enleio que nos cerra doce
O espírito cansado!… Oh! saudade,
Para que vens pousar-te envolta sempre
Em tuas vestes roxeadas tristes,
Nas débeis cordas de minh’harpa débil?!…
Doce chama me ateias dentro d’alma.
Meiga esperança que me nutre em sonhos
De cândida ventura!… Ó saudade,
D’alma esquecida o despertar pungente;
Doce virgem do Olimpo rutilante,
Que co’a taça na destra à terra baixas
E o agro, doce líquido entornando
Em coração aflito, meiga esparges
Indizível encanto, que deleita,
Melancólicas horas num letargo
D’espírito cansado, d’alma aflita,
Que plácida flutua extasiada,
Na etérea região, morada excelsa
Do sidéreo esplendor que a mente inflama;
Tu que estreitas minh’alma em doce amplexo
Preside ao canto meu, ao pranto, às dores.
Quando a noite vaporosa,
Silenciosa,
Cinge a terra em manto denso;
Quando a meiga, a clara Hebe.
Cor de neve
Branda corre o espaço imenso.
Quando a brisa suspirando,
Sussurrando,
Move as folhas do arvoredo,
Qual eco d’um som tristonho
Que num sonho
Revela ao Vate um segredo.
Quando, enfim, se envolve o mundo
Num profundo
Silêncio que ao Vate inspira,
Vens a meu lado sentar-te,
Vens pousar-te.
Nas cordas de minha lira.
E me cinges num abraço
Doce laço
Que se aperta mais, e mais;
E depois entre os carinhos,
Teus espinhos
Em minh’alma repassais!
Entre a melancolia
De poesia
Me dais santa inspiração
Da alma solto uma endeixa,
Triste queixa,
Triste queixa, mas em vão.
Na morada estelífera vagueia
Minh’alma em teus carinhos absorta.
D’aéreo berço, sobre ameno encosto
Adormece de amor, junto a teu lado,
E geme melancólica… e suspira,
Té que desponte da ventura a aurora!
Saudade! ó casta virgem,
Qu’inspiraste a Bernardim,
Nos meus dias de tristeza
Consolar tu vens a mim.
E G. BRAGA